O Arcanjo São Rafael disse a Tobias: "Porque eras agradável a Deus, foi preciso que a tentação te experimentasse".
Caríssimos, não rogueis a Deus que vos livre da tentação, pedi-Lhe antes a graça de sairdes vitorioso dela e de cumprirdes a santa vontade do Senhor. Tende confiança em Deus, e Deus combaterá, em vós, convosco e por vós.
É certo que um Pai de infinito amor, como Deus é, não permitirá nunca que seus filhos sejam tentados, senão para que mereçam e sejam recompensados.
Ouçamos São Francisco de Sales: "Se o demônio continua a bater à porta do vosso coração, é sinal de que ainda lá não entrou". O inimigo não pega em armas, nem dá batalha a uma fortaleza já em seu poder. Se o combate continua, é uma prova certíssima de que a resistência continua também.
Tendes receio de que sejais vencido ainda no meio do vosso triunfo? A origem do vosso receio nasce de confundirdes duas coisas: o sentimento e o consentimento, a imaginação e a vontade, sentir a tentação e consentir nela. A imaginação ordinariamente não depende da vontade. Diz Santo Agostinho: "É tanto da natureza do pecado ser voluntário que, sem a vontade, não há pecado".
O deleite dos sentidos e a força da imaginação são às vezes tão violentas, que parece arrastarem o consentimento da vontade; mas não é assim: a vontade ressente-se, mas não consente; é combatida, mas não vencida. É a lei dos membros de que fala São Paulo, opondo-se à lei do entendimento. Por ela ressentimo-nos do que queremos; ora, é certo de que não queremos aquilo de que nos ressentimos.
Para cometer um pecado mortal são necessárias três coisas: 1. matéria grave; 2. pleno conhecimento da parte do espírito; 3. inteira malícia da vontade. Estas considerações servirão para sossegar-vos, quando se levantarem no vosso coração receios de terdes pecado; porque todas estas condições dificilmente se encontram nas almas que temem ao Senhor. Mas a perfeição deste sossego deve vir da obediência ao confessor ou diretor espiritual.
Nas tentações contra a fé e a pureza, não vos ocupeis em fazer atos diretamente contrários; mas, para lhes não aumentardes a violência, contentai-vos com erguer uma vista de amor para Deus; ocupai-vos em coisas exteriores (por ex. trabalho que gosta, música, jogo etc.); e, como se não fôsseis tentado, continuai a fazer o que estáveis fazendo, sem vos perturbardes um só instante e sem responderdes ao inimigo. Conservareis assim a paz do coração, e o demônio será confundido. Os mais doutos teólogos e os Padres da vida espiritual observam que o desprezo da tentação é um ato contrário mais eficaz do que a palavra.
Caríssimos, para completar o que acabei de escrever, lede com atenção os capítulos III e IV da Filotéia de São Francisco de Sales.
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